Igreja News - Editorial
04/06/2015 09:55
“Nosso coração está em Deus?”
A tripulação cuida de tudo
Pe. Antônio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R.
Imagine-se dentro de um moderno avião prestes a levantar voo. O controle geral zela pelos detalhes da segurança. A tripulação de tudo. Os instrumentos da cabine são minuciosamente checados. Carregado com toneladas de peso, o avião tem que deixar o solo, desprender-se da gravidade e arrojar-se para o alto. A decolagem exige a máxima força das turbinas que elevam a aeronave aos céus. Eis uma pálida imagem de como deve ser nosso voo para Deus na Oração Eucarística. No prefácio, o sacerdote faz vibrante convite: Corações ao alto! Nós respondemos: O nosso coração está em Deus! Sim, urge desprender-se de tudo e das preocupações terrenas para unir-nos a Deus com Jesus. “Devemos deixar que nosso coração lute contra a força da gravidade, que puxa para baixo, e levantá-lo interiormente para o alto: para a verdade e o amor” (Bento XVI, Homilia – Vigília Pascal 2008).
Na Oração Eucarística, ponto central e culminante da Missa, pão e vinho são consagrados conforme a intenção, palavras e ordem de Jesus. “Fazei isto em memória de mim!”. Faz-se presente o mistério pascal da sua morte e ressureição. O prefácio (aquilo que se diz antes) é um hino de louvor e ação de graças existentes desde o 3º século.
Procuramos sair da nossa indigência espiritual, louvar e entrar no mistério de Deus. Isso só nos é possível por Jesus.
Rezamos assim: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, todo honra e toda a glória, agora e para sempre!” Aí a energia divina (a força do alto) turbina o íntimo do nosso coração. O poder do Espírito Santo alia-se ao nosso frágil querer e nos entregamos confiantes nos méritos do Senhor Jesus. “O Filho de Deus se fez homem, para que o homem se tornasse filho de Deus!” Os autores sacros dos primeiros séculos definiam assim a união com Deus.
Na Missa acontece essa sinergia, ou seja, a fraca energia humana é embebida no sopro vital de Deus (Espírito Santo) e por Ele potencializada. Ele nos dá a identidade de Cristo e faz o nosso coração pulsar com o de Deus. A obra de Deus (Jo 6,29) elevou Jesus na cruz e o levantou na ressureição. Ela se realiza em nós quando atualizamos na Eucaristia o mistério pascal.
Sim, o nosso coração está em Deus!
Mas, pode não estar. Se nos envolvemos no agito do mundo com seus interesses, podemos ceder às tentações e não “levantamos voo” para as coisas do alto.
Jesus nos previne: “Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6,21). Saibamos elevar com total confiança o pobre coração humano ao cimo da cruz redentora. “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto onde Ele está à direita de Deus... Aspirai às coisas do alto e não às coisas da terra” (Cl 3, 1-2).